Assalto na Quebrada (Contos do Crime)
- ANDRE BRITO
- 17 de ago.
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Era 1990. Onze da noite. Subia a rua de braços dados com minha namorada, exibindo roupa nova da C&A, tênis M2000 e uma correntinha de Cristalina. Na esquina, decidiria: pizza no “Texas” ou uma volta pela praça Santo Antônio.
A cidade era pequena, tranquila. Uma delegacia com dois policiais. Nada de quartel da PM. Crimes existiam, mas raros, quase sempre internos da própria quebrada. Eu nunca havia sentido o gosto amargo de um assalto.
Ela estava radiante, loira, bonita, iluminada pela lua. O primo policial vivia paranoico, como se fosse personagem de gibi. Achava exagero. Aquele lugar não parecia ameaçador.
No centro, uma boate recém-inaugurada, instalada onde já fora igreja e padaria. Ironia: do culto a Deus ao culto ao "demônio do rock". Lobão, Legião, Paralamas, Capital. Álcool, maconha e loló. O refrão da juventude ecoava como um mantra: “Cadê meu baseado?”.
Foi quando dois vultos surgiram. Pensei serem amigos. Um chute no peito me lançou ao chão. Vieram os socos, fracos, descoordenados. Estavam drogados. Eu resisti. Até que um deles apontou para minha namorada:
— Vai andando, mina. Se reagir, a gente mata.
As mãos sob a camisa simulavam armas. Seriam reais? A dúvida me paralisou. Disse que não tinha dinheiro. Revistaram, confirmaram. E repetiam como lema de guerra:
— Sabe de onde nóis é, mano? Da Ceilândia!
Levaram meu tênis, o casaco, a corrente, o relógio. E foram embora, tranquilos, sumindo nos becos.
Corri para a casa do amigo Genivah, único com telefone. Liguei para a polícia. A viatura apareceu, mas ao ver a rua vazia deu meia-volta e sumiu. O caso morreu ali.
Tentei juntar os amigos para correr atrás do prejuízo. Em vez de apoio, ouvi a sentença:
— Quem manda andar arrumadão na quebrada, mano?






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