13 Álbuns Essenciais para Entender a Soul Music
- ANDRE BRITO
- 25 de out.
- 8 min de leitura
A Soul Music é um vasto terreno. Vai das baladas doloridas às melodias ensolaradas. Tem origem na música gospel. A soul music foi ganhando registro na forma de singles, muito mais do que em álbuns completos. Porém, alguns artistas alcançaram sucesso com suas gravadoras. Otis Redding e Isaac Hayes fizeram sucesso na Stax, em Memphis. Stevie Wonder e Marvin Gaye tiveram êxito na Motown, em Detroit. Com isso, o gênero rendeu discos que se tornaram verdadeiros clássicos. A obra desses astros pavimentou o caminho para a música negra moderna e influenciou o pop produzido nas décadas seguintes.
No rap, o Soul encontra eco nos trabalhos das cantoras Erykah Badu e Lauryn Hill. Isso sem falar na extensa gama de bases que são sampleadas por inúmeros grupos. Recentemente, uma série de novos artistas ressuscitou o gênero com todo o louvor merecido. Depois do surgimento de Amy Winehouse e seu “Back to Black”, a banda Eli “Paperboy” Reed and The True Loves ganhou destaque com “Roll with you”. Outro destaque foi o compositor, produtor e arranjador Raphael Saadiq, que lançou em 2008 o disco de inéditas “The way I see it”.
A lista abaixo, com 13 álbuns essenciais para entender o Soul, é uma introdução ao gênero e propõe obras indispensáveis na discoteca básica do ouvinte. Usamos as informações do guia “Soul and R&B”, de Peter Shapiro.

“The Impressions”, The Impressions, 1963 Muito além de ser a banda de apoio de Curtis Mayfield, o grupo vocal ajudou a dar forma ao soul de Chicago definido por ele. Se suas canções eram doces e animadas, elas mantiveram a alma graças à tradição gospel. Seu primeiro álbum, “The Impressions”, foi uma das melhores estreias de soul dos anos 60. Quase todas as canções do repertório haviam sido escritas por Mayfield, incluindo “Gypsy woman”, composta quando ele tinha 14 anos. “It’s all right”, considerada uma das melhores, ganhou a interpretação harmônica sublime dos integrantes, aliada aos metais cheio de suingue e à guitarra inconfundível de Mayfield.

Dono de muitos apelidos, de padrinho do soul a Mr. Dynamite, nenhum outro artista do gênero teve a energia de palco de James Brown. Diante de dezenas de álbuns e compilações do artista, a missão de escolher apenas um álbum de Brown, é extremamente dificil, considerando a carreira que dispensa adjetivos de "pai do Soul". Mas um disco em especial, é considerado um dos mais prolíficos da carreira de James Brown e serviu de inspiração para toda uma geração de rappers e músicos em geral. The Payback, lançando em dezembro de 1973, foi o 40° disco de James, pela gravadora Polydor. Alcançou o número 1 da parada Soul Albums por duas semanas e número 34 da Pop Albums, da Billboard. Foi o único álbum de Brown a ser certificado ouro. The Payback é considerado um dos altos pontos da carreira musical de Brown e agora é considerada pelos críticos como um marco do funk. A canção título alcançou o número 1 da parada R&B e é uma de suas mais famosas canções bem como fonte de samples para muitos produtores musicais. Musicalmente o álbum tem grooves cíclicos e festivos mas também passeia no soul, como na faixa "Doing the Best I Can". O álbum foi relançado em CD em 1992 com anotações extras de Alan Leeds
“Otis Blue: Otis Redding Sings Soul”, 1966
Um dos mais influentes cantores de soul dos anos 60 teve uma curta carreira cujo auge se deu no terceiro álbum. “Otis Redding sings soul” foi lançado um ano antes de sua morte, aos 26. Sua obra foi suficiente para que Redding ganhasse o respeito de bandas como os Rolling Stones, que gravaram duas canções suas: “That’s how strong my love is” e “Pain in my heart”. Em retribuição, o cantor lançou neste álbum uma elogiada versão de “(I can’t get no) Satisfaction”. Entre outros covers clássicos estão “A change is gonna come” (Sam Cooke) e “My girl” (composição de Smokey Robinson que se tornou sucesso na voz do grupo Temptations).
“I Never Loved A Man The Way I Loved You”, Aretha Franklin, 1967 A cantora, compositora e pianista não poderia ser chamada por uma alcunha diferente da de “lady soul”. Suas raízes gospel datam da época em que começou a cantar, ao lado das irmãs, na igreja de seu pai, o reverendo C.L. Franklin, na Detroit dos anos 50. Na verdade, suas primeiras gravações foram como cantora gospel aos 14 anos. Ela seguiu lançando singles pela Columbia, mas foi o álbum “I never loved a man the way I loved you”, já na Atlantic, que revelou toda a paixão e a intensidade que fazem de sua voz algo único. A interpretação de “Respect”, de Otis Redding, por si só já valeria o disco, mas ele tem outras pérolas como “A change is gonna come”, de Sam Cooke, nome importante na história do soul.
“Hot Buttered Soul”, Isaac Hayes, 1969
Com ajuda dos Bar-Kays como banda de apoio, Isaac Hayes ousou lançar, em 1969, um disco com apenas quatro faixas e muitos minutos de duração. Em sua obra-prima, o dono da voz do Chef da série “South Park” alterna monólogos sobre o amor ferido e instrumentações inspiradas. Aqui, ele expande o formato da soul music com arranjos orquestrais e metais poderosos, tudo temperado com guitarras cheias de malícia – o complemento perfeito para o seu vozeirão. Hayes, morto em 2008, influenciaria outros artistas: a base de “Ike’s Rap III”, do disco “Black Moses” (outro clássico do cantor, lançado em 1971), aparece em músicas dos ingleses Tricky e Portishead, e até do grupo de rap paulistano Racionais MC’s.
“Stand!”, Sly And The Family Stone, 1969
Foi a partir de tendências díspares do final dos anos 60 que a banda californiana criou uma mistura única de soul, rock, funk e R&B que influenciaria as gerações seguintes. Além de ser um grupo multicultural, formado por homens e mulheres de diferentes raças, o Sly & the Family Stone foi um dos pioneiros a tocar em assuntos políticos em suas letras, fazendo com que isso se tornasse uma tradição não só entre os grupos de soul, mas também de funk e principalmente rap. Ao lado de James Brown, o grupo levou o funk para o mainstream. Essa efervescência se traduz no álbum “Stand!”, com suas melodias coloridas, guitarras psicodélicas e consciência social.
“Diana Ross Presents The Jackson 5”, Jackson 5, 1969
A banda que revelou o futuro rei do pop Michael Jackson foi o primeiro grupo na história a ter os seus primeiros quatro singles no topo das paradas americanas: “I want you back”, “ABC”, “The love you save” e “I’ll be there”. Jackson e seus irmãos mais velhos – Jackie, Tito, Jermaine e Marlon – se tornaram a grande sensação da gravadora Motown ao lançar seu álbum de estreia, apadrinhado pela estrela Diana Ross. Nele, o grupo interpreta canções de Stevie Wonder (“My cherie amour”), Smokey Robinson (“Who’s lovin’ you”), The Corporations (“Nobody”), entre outros. Traçando um caminho que foi além do soul, o grupo incorporou elementos de doo-wop e bubblegum ao seu repertório, com refrãos cantaroláveis e melodias fáceis.
“Everthing Is Everything”, Donny Hathaway, 1970
Se não tivesse morrido tão jovem, Donny Hathaway teria sido provavelmente um dos grandes nomes da música negra. A voz macia – presente em canções como “The ghetto” – contrasta com as circunstâncias trágicas de sua morte – um aparente suicídio, aos 33 anos. Mas seu legado musical é cheio de alma. Além de ter trabalhado nos bastidores como produtor, arranjador e músico de apoio para artistas como Aretha Franklin, Roberta Flack e Curtis Mayfield, seu primeiro álbum solo, feito à base de lindos arranjos em uma atmosfera gospel, não se parecia com nada que já tinha sido feito até 1970.
“What’s Going On”, Marvin Gaye, 1971
Muito além de ser a obra-prima de Marvin Gaye, “What’s going on” é considerado um dos discos mais importantes da soul music. O álbum revela a voz ímpar de um artista agora livre da imagem de símbolo sexual do R&B. Se antes ele se sentia encarcerado pela máquina de fazer hits da Motown, agora Gaye pode expressar sinceramente o que o preocupa por meio da música. O tema central da obra é o questionamento sobre o que teria acontecido com o “sonho americano” do passado. Concebido a partir do ponto de vista de um veterano da guerra do Vietnã, o disco versa sobre pobreza, crianças abandonadas, desemprego, a brutalidade da polícia e o uso de drogas.
“Songs In The Key Of Life”, Stevie Wonder, 1972
Dono de um apetite voraz por diversos gêneros musicais, Stevie Wonder, cego de nascimento, ajudou a expandir as barreiras da música negra ao misturar funk, rock, jazz, reggae e elementos africanos em suas composições. O uso de sintetizadores, nos anos 70, mudou a cara do R&B tradicional. Esse imenso leque de interesses ajudou a torná-lo famoso internacionalmente, assim como Ray Charles. Astro da Motown, ele emplacou vários hits ainda na adolescência, mas foi com o LP duplo “Songs in the key of life” que ele realizou sua obra mais ambiciosa. Amor, questões sociais e espirituais aparecem acompanhados por uma vasta gama de arranjos, em uma performance que é considerada a melhor de Wonder.
“Superfly”, Curtis Mayfield, 1972
Se Curtis Mayfield já vinha fazendo um trabalho sublime à frente dos Impressions, um dos melhores grupos vocais de soul dos anos 60, sua contribuição para a música negra na década seguinte não foi menos importante. Como artista solo, ele foi um dos primeiros a escrever temas sobre o orgulho afro-americano, além de ter sido um excelente guitarrista – suas composições têm um sotaque latino único. Sua obra-prima é “Superfly”, trilha sonora do filme de blaxploitation de mesmo nome. Nele, Mayfield descreve, com senso de realidade único, a luta pela sobrevivência nos guetos, a presença de drogas e a morte antes do tempo.
“I’m Still In Love With You”, Al Green, 1972
Al Green foi o primeiro grande cantor de soul dos anos 70. Além de ter incorporado elementos da música gospel à sua obra, pontuada por gemidos selvagens e lamentos, ele é um dos poucos artistas daquela época que ainda mantêm o vigor, a exemplo do álbum “Lay it down”, um dos melhores de 2008. Em seu disco de 1972, Green não desperdiça uma só faixa: de “For the good times”, canção de Kris Kristofferson com influência country, à lenta “Oh pretty woman”, de Roy Orbison – passando, é claro, por todas as suas composições próprias – “I’m still in love with you” descortina o reverendo no auge da inspiração.
“Still Bill”, Bill Withers, 1972
O cantor e compositor Bill Withers pode não ter se tornado um nome tão conhecido quanto outros artistas relacionados à soul music, mas seu terceiro álbum de estúdio é considerado o resultado perfeito da combinação de elementos contemporâneos da década de 70. “Still Bill” junta o soul macio vindo da Filadélfia com o sabor blueseiro do sul – tudo enfumaçado pelo funk de Bobby Womack. Por trás de uma atmosfera morna e de fácil acesso, revelam-se camadas profundas de arranjos e letras densas. Um dos destaques do repertório é “Lean on me”. A canção divide espaço com a ciumenta “Who is he (and what is he to you)?” e ainda “Use me”, em que o autor admite alegremente ser usado pelo objeto de sua afeição.






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